Quem nunca se encantou com as cores e formas exuberantes que um recife de corais tem na natureza. E muitos amantes desse ecossistema acabam montando seus próprios recifes em casa em aquários mais lindos do que outros. O bom é que hoje em dia, replicar esses ambintes em casa, está cada vez mais fácil e possível, pois a cada ano novas tecnologias vão surgindo para facilitar a manutenção e crescimento saudável dos corais.
Porém o que muita gente não sabe é que algumas espécies de corais possuem venenos que causam intoxicação e podem levar à morte dependendo da dose que for absorvida. Algumas espécies de Zoantídeos (espécies de Palythoa e Zoanthus) pode naturalmente conter uma substância chamada palitoxina em seus tecidos, capaz de levar á morte dependendo da concentração.
Figura 1: Diversas mudas de zoantídeos, com cores exuberantes e possuem em seu tecido a toxina palitoxina
Geralmente os corais zoantídeos são frequentemtne recomendados para aquaristas iniciantes pois são relativamente fáceis de serem mantidos em aquários. Porém, os riscos associados à manipulação desses corais moles em aquários domésticos são pouco conhecidos ou subestimados pelos aquaristas ou fornecedores, pois os casos são limitados e é necessário um aumento na divulgação dos casos para uma maior conscientização.
A intoxicação ocorre quando há manipulação sem proteção dos animais e a toxina é absorvida através de lesões presentes na pele ou inalação. Por isso, ao manipular é importante usar proteção adequada, como óculos para proteção dos olhos, luva que vai manipular os corais para proteção das mãos e máscara para proteção de boca e nariz.
Os sintomas de intoxicação são semelhantes aos da gripe, como tosse, febre, calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, dores musculares, dor no peito, dificuldade respiratória.
Sintomas cutâneos: erupção cutânea (urticária), coceira, dormência, dermatite.
Sintomas respiratórios: chiado no peito, aperto no peito, falta de ar, coriza, líquido nos pulmões.
Sintomas gastrointestinais: cólicas abdominais, náuseas, vômitos, diarreia.
Sintomas oculares, conjuntivite, fotofobia, visão turva, ulceração da córnea.
Sintomas neurológicos: fadiga, tontura, distúrbios da fala, gosto amargo metálico, tremores, formigamento ou dormência das extremidades.
Sintomas musculares: dor, fraqueza, cãibras, espasmos.
Efeitos cardíacos: frequência cardíaca irregular, lenta e rápida, lesão do músculo cardíaco, pressão arterial baixa ou alta
Casos graves relatam colapso muscular, insuficiência renal, coma e morte por insuficiência cardíaca ou respiratória. Não há tratamento específico de antídoto para envenenamento por palitoxina com tratamento médico limitado geralmente a cuidados de suporte.
Um cliente da Ipiranga Peixes Ornamentais, Alessandro Francisco Cruz (Pierrot) da loja Reef-Litoral, no início do mês de fevereiro de 2022, se acidentou ao manipular uma rocha viva (espetou o dedo) e ficou por cerca de 45 a 60 dias sofrendo com os efeitos causados. Na ocasião o mesmo estava sem equipamentos de proteção. Durante esse tempo todo, ele passou por vários médicos, fez uso de uma série de antibióticos e anti-inflamatórios prescritos por médicos, mas sem ter um resultado de sucesso, e só após entrar com cloridrato de moxifloxacino (antibiótico mais potente) a progressão da doença diminuiu. Não se chegou a um diagnóstico difinitivo da causa, porém caso o cliente não tivesse procurado ajuda médica os efeitos poderiam ter sido piores. O cliente relata que após “a picada” a dor era muito grande e logo em seguida começou um processo de inchaço local, que foi progredindo. Ele relata que após 3 semanas estava aparecendo “caroços” inclusive no braço, que só sumiram após e antibiótico mais potente.
Figura 3: (A) Dedo médio de um lojista que se perfurou apresentando rubor e inchaço minutos após o acidente; (B) dedo médio bastante inchado 8 horas após o acidente; (C) dedo médio bastante inchado e dolorido após 7 dias do acidente; (D) dedo médio após 10 dias iniciou-se uma ulceração na pele.
Figura 4: (E) Após 15 dias a região mediana do dedo também começou a apresentar rubor e inchado; (F) outro ângulo do mesmo dedo 15 dias após o acidente; (G) 20 dias após o acidente; (H) 24 dias após o acidente. Nestas fotos, o lojista já havia passado por tratamento com dois antibióticos e anti-inflamatórios diferentes que não surtiram efeito.
Figura 5: (I) 5 semanas após o acidente; (J) 6 semanas após o acidente (aqui entrou com uma nova antibiótico - cloridrato de moxifloxacino); (L) 7 semanas após o acidente e uma semana após o início com o novo antibiótico; (M) 8 semanas após o acidente e o sem sinais de infecção.
Não se sabe se foi uma bactéria, uma toxina ou qualquer outro tipo de coisa. O que se sabe é que o acidente foi bastante grave, e abre um alerta para que pessoas que manipulem esses animais tomem bastante cuidado. É importante que mãos não estejam machucadas, e se for uma peça que pode causar cortes, o correto uso de luvas é de extrema necessidade, além de outros equipamentos de protenção.
Hoje graças aos cuidados que teve, nosso amigo Alessandro está bem e se recuperou do susto.
Figura 5: O lojista Alessandro Francisco (Pierrot) Cruz da Reef-Litoral com o dedo completamente recuperado em sua loja.
Gostou? Então compartilha, pois muitas vezes o médico que vai atender uma pessoa com esse tipo de acidente pode não ter conhecimento sobre o assunto.
Referências consultadas:
https://vejasp.abril.com.br/coluna/pop/toxina-mortal-limpeza-aquario/
Hall et al. 2015. “A Case of Palytoxin Poisoning in a Home Aquarium Enthusiast and His Family” . Case Reports in Emergency Medicina.
0 comentários:
Postar um comentário