34. Pragas associadas a corais que afetam saúde e bem-estar: dicas de manuseio e controle
É sempre bom enfatizar que todos os novos animais adquiridos, desde peixes a caramujos e corais, devem ser quarentenados antes de serem adicionados no seu aquário. Um período de quarentena serve a muitos propósitos que inclui: 1) certificar-se de que novo animal se recuperou do estresse do transporte, 2) está saudável e comendo, 3) além de oferecer uma oportunidade de verificar e remover qualquer potencial praga que tenha vindo de carona. Assim, você pode ficar mais tranquilo de que está soltando sua nova aquisição no ambiente controlado que deve ser um aquário.
Fazer a uma quarentena prévia com algumas boas práticas de manuseio pode ser uma grande vantagem na tentativa de erradicar pragas antes delas entrarem no seu aquário. Mas como exatamente você faz essa remoção e com que tipo de animais você deve se preocupar mais com as pragas? Ao longo dessa série você encontrará algumas dicas sobre como lidar com algumas pragas de corais. Esta não é uma lista abrangente, mas muitas das criaturas mais comuns que podem pegar carona nos corais, correndo o risco de entrar e infestar seu aquário.
Entre os cuidados mínimos que devemos ter antes de adicionar novos corais nos aquários estão:
- Fazer quarentena de corais antes de colocar no seu aquário;
- Fazer uma inspeção minuciosa de cada animal para identificar possíveis pragas macroscópias;
- Fazer banhos terapêuticos para reduzir a probabilidade da introdução de pragas;
- Se for tratar as pragas, leia atentamente todas as intruções sobre o medicamento com volumes e dosagens para que não haja intoxicação;
- Constantemente observe os animais do aquários, na busca de dúvidas e caso apareça alguma coisa trate imediatamente antes que você tenha perdas.
Figura 1: Foto da esqueda, corais sendo recebendo um banho profilático, antes de entrarem para o aquário quarentena na foto direita.
Atenção e cuidado !!!
Ao manusear corais ou medicamentos, é muito importante usar equipamentos de protenção individual (EPI), para proteção dos olhos e das mãos. Após cada manuseio lave as mãos com água e sabão. Muitos corais possuem toxinas químicas que pode causar intoxicação e em algumas situação levar inclusive à morte. É o caso por exemplo algumas espécies de Zoantídeos (espécies de Palythoa e Zoanthus) que pode naturalmente conter uma substância chamada palitoxina em seus tecidos, capaz de levar á morte dependendo da concentração (Hall et al. 2015).
Os corais e os aquários pode conter um grande número de bactérias, algumas extremamente patogênicas. É importante que você tente evitar qualquer corte e se ocorrer um corte ou perfuração lave com água corrente e sabão imediatamente. Caso o problema se agrave, procure imediatamente cuidado médico e conte sobre a situação.
Tipos de pragas comuns e algumas informações:
1) Aptasia
Também conhecidas como anêmonas de vidro, são pequenas anêmonas, claras e marrons. São muito resistentes, reproduzem-se facilmente nos aquários. Aptasias também tendem a crescer em pequenas fendas e a se retrair rapidamente, dificultando a remoção física.
Se você optar por remover fisicamente essas pragas, certifique-se de ter um sifão pronto ou execute o procedimento fora do tanque. Quaisquer pequenos pedaços de anêmona que permaneçam no tanque tem potencial de crescer novamente, o que pode piorar o problema em vez de melhorar.
Figura 2: Figura representando colônias de Aiptasia em aquários de água salgada
Se você optar por remover fisicamente essas pragas, certifique-se de ter um sifão pronto ou execute o procedimento fora do tanque. Quaisquer pequenos pedaços de anêmona que permaneçam no tanque tem potencial de crescer novamente, o que pode piorar o problema em vez de melhorar.
Se você encontrar Aiptasia em seu aquário, existem muitos predadores naturais que podem ajudar e essas soluções naturais geralmente são a melhor abordagem. Dentre os predadores naturais que servem de controle biológico estão o camarão bailarino e a borboleta Copperband.
Figura 3: Camarão bailarino (esquerda) e Borboleta Cooperbanad (direita) utilizados como controles biológicos de Aiptasia.
Se você se encontra em uma situação em que os predadores naturais não são uma possibilidade (ou onde sua infestação é tão extrema que os predadores precisarão de ajuda), também existem algumas soluções químicas eficazes, mas essas geralmente devem ser sua opção de último recurso.
2) Nudibrânquios
Nudibrânquios são algumas das pragas predatórias mais comumente vistas em aquário de recife. A maioria são predadores obrigatórios, tendo um tipo específico de coral ou outro animal que é sua única fonte de alimento. Muitas vezes, sua aparência física imita a de suas presas, tornando-os difíceis de serem detectados.
2.1 Nudibrânquios comedores de Zooanthus
Os Nudibrânquios comedores de Zoanthus geralmente têm cores brilhantes que combinam com a “saia” dos Zoantídeos. Assim, o primeiro passo para verificar e tratar essas os Zooanthus, deve ser examinar atentamente seus novos Zoantídeos, especialmente quando fechados, quando os nudibrânquios de cores brilhantes se destacam. Procure também por ovos, geralmente na parte inferior ou no caule dos Zoantídeos e mais facilmente identificados quando estão fechados.
Figura 4: O círculo em vermllho representando os Nudibrânquios mimetizando a cor do Zooanthus.
A remoção física geralmente é a melhor opção a ser feita se você encontrar os Nudibrânquios. Se os Zoantídeos forem facilmente isolados, mergulhos curtos em água doce podem ser feitos para matar adultos (sem afetar os ovos). É necessário cuidado para manter a exposição à água doce curta para não estressar excessivamente seus Zoantídeos. Peixes bodiões, como o coris amarelo, vermelho, melanurus e muitos outros também são bons predadores de nudibrânquios e outras pequenas pragas presentes nos corais.
Figura 5: Peixes bodião Red Coris (esquerda) e Bodião Melanurus que podem ser utilizados como controles biológicos contra nudibrânquios.
2.2 Nudibrânquios comedores de Monotiporas
Nas Montiporas também há um nudibrânquio específico. Os nudibrânquios das Montiporas são muito pequenos, brancos ou de cor creme e muitas vezes difíceis de serem detectados e podem facilmente serem identificados, pelo menos no início, pelos danos que causam aos corais.
Áreas pálidas e mortas em expansão lenta ao redor das bordas das Montiporas são uma pista de que possa estar havendo uma infestação. Verifique ao redor das bordas, bem como nas fendas ou rachaduras, e na parte inferior da peça e remova quaisquer adultos e ovos visíveis. Banho à base de iodo, são eficazes contra nudibrânquios adultos, mas deve-se tomar cuidado para que os banhos não sobrecarreguem os corais. Os bodiões predadores também podem ajudar a remover nudibrânquios adultos. Em alguns casos, a fragmentação pode ser necessária para remover as partes afetadas de uma colônia para salvar as áreas saudáveis restantes.
Figura 6: Ilustração dos nudibrânquios adulto em Montipora (esquerda) e o resultado de sua infestão (direita)
3. AEFW (Acropora eating flat worm) – verme achatado comedor de Acropora
Os vermes achatados comedores de Acroporas, Prosthiostomum acroporae, conhecido por sua sigla em inglês AEFW (Acropora eating flat worm) está associados à Acroporas da grande barreira de corais (mas recentemente descobriu-se tem distribuição cosmopolita) e aquários particulares e publicos. Possui alta taxa de fecundidade e natureza enigmática e frequentemente resulta em uma rápida proliferação em ambintes de cativeiro, causando mortalidade de colônias de Acropora infestadas (Barton et al. 2020). A primeira descrição formal foi em 2012, a partir de aquaristas que estavam tendo perdas de Acroporas em seus aquários particulares.
Figura 7: Lesões esbranquiçadas de aproximadamente 1mm causada por AEFW (esquerda) e aglomerados de ovos depositados pelo verme em Acropora (direita)
P.acroporae é um verme chato (Platyhelminthes: Polycladida) e pertence à sub-ordem Cotylea e família Prosthiostomidae. O verme adulto (figura 8A, C e D) se alimenta do tecido de Acropora, deixando uma região esbranquiçada de aproximadamente 1 mm de diâmetro e deposita aglomerados de ovos no qual possui os embriões (figura 7B) se desenvolvem até a eclosão.
Figura 8: Verme adulto (A, C e D) e aglomerados de ovos com embriões (B)
A longa cadeia do comércio de organimos aquáticos ornamentais possibilita a a disseminação dos platelmintos entre os corais, e o estresse de transporte faz com que haja um aumento na susceptibilidade das colônias de Acropora à infestações.
Barton e colaboradores (2019) descreveram o ciclo de P.
acroporae e sugeriram que tratamentos químicos com intervalos de 2-3
semanas são potencialmente eficazes na quebra do ciclo em temperaturas de 24 a
30ºC. Tratamentos profiláticos em corais são comumente aplicados no mercado de
aquarismo, através de banhos de imersão em solução terapêutica para tratar uma variedade de doenças.
Figura 9: Ciclo de vida de P. acroporae (AEFW) em temperatura de 24 a 30ºC
3.2 Acropora red bugs
Tegastes acroporanus, coloquialmente conhecido como “red bug” é um copépode e é uma praga comum em Acropora spp em aquários públicos, particulares e em fazendas de corais. Enquanto as infecções por Tegastes não são necessariamente fatais para o hospedeiro, algumas vezes se tornam problemáticos em animais de cativeiro e causa doenças em corais através de estresse e infecções secundárias (Christie and Raines 2016)..
Infestações por T. acroporanus são facilmente detectáveis, pois as pragas amarelas e vermelhas brilhantes são visíveis sob ampliações baixas (figura 9).
Figura 9: Fotomicrografias de Tegastes acroporanus vivas imobilizadas com 70 g/L de MgCl (campo escuro; 100×) e alimentando-se in situ de Acropora formosa viva (inserção). Observe a distinta pigmentação vermelha do urossomo (a) em contraste com o amarelo brilhante do prossoma (b) e a morfologia dos maxilípedes (c), que são característicos da espécie.
Os sinais clínicos manifestados pelo hospeideiro inlcui perda de coloração, extensão ineficiente do pólipo e cessação de crescimento. A característica de perda de coloração pode ser explicada pela expulsão da zooxantela dos corais infestados. Os esqueletos de corais infetastados pelo copépode T. acroporanus contém fungo e algas vezes. Infecções bacterianas secundárias nas feridas causadas pelo copépode na Acropora são comuns (Christie and Raines 2016).
A erradicação dos copépodes dos corais é difícil, pois pouquissimos terapueticos se provam eficázes contra a infestação de copépodes e seguros para o hospedeiro (corais). As medicações comumente utilizadas são ivermectina, milbemicina e lufenuron – grupos de medicamentos que inibem as funções neurológicas no copépode (Christie and Raines 2016).
Referências científicas consultadas:
- Barton JA, Bourne DG, Humphrey C, Hutson KS (2020) Parasites and coral-associated invertebrates that impact coral health. Rev Aquac 12:2284–2303. https://doi.org/10.1111/raq.12434
- Barton JA, Hutson KS, Bourne DG, et al (2019) The Life Cycle of the Acropora Coral-Eating Flatworm (AEFW), Prosthiostomum acroporae; The Influence of Temperature and Management Guidelines. Front Mar Sci 6:1–12. https://doi.org/10.3389/fmars.2019.00524
- Barton JA, Neil RC, Humphrey C, et al (2021) Efficacy of chemical treatments for Acropora-eating flatworm infestations. Aquaculture 532:735978. https://doi.org/10.1016/j.aquaculture.2020.735978
- Christie, Barrett L., and Janis A. Raines. 2016. “Effect of an Otic Milbemycin Oxime Formulation on Tegastes Acroporanus Infesting Corals.” Journal of Aquatic Animal Health 28(4): 235–39.
- Hall et al. 2015. “A Case of Palytoxin Poisoning in a Home Aquarium Enthusiast and His Family” . Case Reports in Emergency Medicina.
Escrito e elaborado por Dr. Pedro Henrique M. Cardoso, Médico-Veterinário Responsável Técnico – Ipiranga Peixes